O Igor Cardoso escreveu uma bela homenagem no facebook as mulheres garanhuenses, destacando àquelas que marcaram a história de nossa cidade. Abaixo a íntegra do texto:
O lugar de onde eu venho foi fundado por uma MULHER - sim, por uma MULHER, e que MULHER! Neta de um mito - do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, responsável pela destruição do Quilombo dos Palmares -, e nascida da união de um branco com uma índia guará-anum, SIMOA GOMES d'Azevedo, com sua personalidade forte e aguerrida, mas capaz de gestos extremamente humanos e magnânimos, sempre encarnou o protótipo da MULHER pioneira, síntese da brasilidade.
Da criança brejeira à "dama de alto porte, destemida e impávida, que cavalgava, varonilmente, os fogosos corceis de seu pai - de pistola nos coldres, à cinta, à moda brasileira setecentista" -, a mameluca SIMOA fez história. A viuvez precoce - leia-se: a ausência de um esposo - jamais foi capaz de demovê-la de seu arrojo e empreendedorismo. Assim, ela lançou mão dos recursos e esforços necessários à construção da primitiva capela de Santo Antônio; procedeu à doação de suas terras da Fazenda do Garcia, para que nelas se desenvolvesse o povoado - tal o ato que a imortalizaria; e alforriou escravos, isso em pleno século XVIII, mais de cem anos antes da Lei Áurea.
O lugar de onde eu venho, imortalizado na voz de Luiz Gonzaga como a "Terra de Simoa", é também a terra de uma MULHER ruiva, uma jovem jornalista, que, pela paixão com que expressava e lutava por seus ideais, arrebatou o coração de ninguém menos que Jean-Paul Sartre, para ciúmes de Simone de Beavouir. CRISTINA TAVARES Correia herdou de seu pai a atitude e o pioneirismo próprios dos grandes espíritos, e marcou época como a primeira MULHER deputada federal por Pernambuco, e uma das primeiras do Brasil.
A "CHRISTINA T." das referências de Simone de Beauvoir - grande FEMINISTA que, mesmo enciumada, não poupava elogios à garanhuense -, destacou-se tanto como jornalista quanto como política. Não é de surpreender, logo, que um dos principais prêmios do jornalismo brasileiro leve seu nome. Mas foi como constituinte de 1988 que a ruiva alterou os destinos do país, sobretudo - mas não apenas - no atinente aos DIREITOS DAS MULHERES. Incansável batalhadora, CRISTINA está por trás de boa parte das disposições constitucionais atualmente vigentes que elevam a MULHER ao status que sempre lhe deveria ter cabido, e que tentam compensar a dívida histórica que uma sociedade de base patriarcal e machista como a brasileira inevitavelmente tem para com as homenageadas do dia 8 de março.
O lugar de onde eu venho, o berço de SIMOA e de CRISTINA, é também o rincão natal de uma das grandes escritoras pernambucanas deste século, uma literata cujo currículo e cuja produção intelectual centra-se, ora vejam, na PRESENÇA e na ATUAÇÃO FEMININA - sobretudo pernambucana - na Literatura. Doutora pela Université de Paris VII em LITERATURA FEMININA do Século XIX, LUZILÁ GONÇALVES Ferreira é, hoje, a principal referência no assunto em Pernambuco, com mais de uma dezena de trabalhos publicados no gênero.
LUZILÁ compreende a ALMA FEMININA como ninguém, e traduz essa essência - ressalte-se: para longe do clichê da "grande mulher por trás de todo grande homem" - em seus romances, marcados por personagens MULHERES inteligentes, sensíveis e independentes - em suma: apaixonantes! Da pioneira poetisa Thargélia à intelectual europeia Lou Salomé, grande amor de Nietzche, passando por Dona Anna Paes, do engenho Casa Forte - e suposto affair do Conde Maurício de Nassau -, LUZILÁ nos brinda, a cada novo trabalho, com uma nova e brilhante interpretação de o que é SER MULHER.
O lugar de onde eu venho, a terra de SIMOA, de CRISTINA e de LUZILÁ, tem alma feminina. Espraia-se por sete charmosas donzelas-colinas, ornando-se de flores as mais coloridas e variadas, sempre perfumada. Ela própria é uma flor serrana, a Cidade das Flores, uma urbs vaidosa, sim, que ama embelezar-se, mas que também é culta, precursora e militante, que adora estar à frente de iniciativas que valorizam a cultura e o intelecto humanos como um todo, tal o caso de seu famoso Festival de Inverno.
Apenas em um lugar assim poderiam ter nascido uma SIMOA, uma CRISTINA e uma LUZILÁ, mas também uma NARCISA COELHO, uma CHIQUITA SOUTO, uma SYLVIA GALVÃO, uma LUZINETTE LAPORTE e uma ANDREA AMORIM, dentre tantas outras...
E eu nem precisava beber nessas fontes tão ilustres para ter uma exata noção da dimensão da MULHER GARANHUENSE: bastava me referir a DONA TEREZINHA CARDOSO e a DONA OZANA MARIA DA CONCEIÇÃO, minhas avós, aqui referidas pelos seus nomes de solteiras - sim, porque elas já existiam antes e continuaram a existir, impávidas, depois de meus avôs. Bastava me reportar à minha mãe, ANA TÉRCIA CARDOSO DE FREITAS; à minha babá, DAMIANA DA SILVA; à minha madrinha, ELIANE CARDOSO DE FREITAS; enfim, a todas as minhas tias e primas.
O lugar de onde eu venho tem ALMA FEMININA e conhece bem as MULHERES. De lá, saíram algumas da melhores que esse país já conheceu. E de uma delas - sei que sou suspeito, mas, forçosamente, daquela que considero a melhor - nasci eu.
À SIMOA, à CRISTINA, à LUZILÁ, às DONAS TEREZINHA e OZANA, à ANA TÉRCIA, a todas as garanhuenses, aliás, filhas legítimas ou adotivas, famosas ou incógnitas, eu devo a admiração e o respeito que nutro pelas MULHERES. Ser-lhes-ei eternamente grato, razão pela qual aproveito esta data, esta efeméride simbólica, para, por meio dessas singelas palavras, agradecer-lhes e parabenizar-lhes:
FELIZ GARANHUNS DAS MULHERES A TODAS VOCÊS!!!
Igor Cardoso (autor do texto) |
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