quinta-feira, 24 de julho de 2014

7ª Noite do FIG foi de música, poesia e reverência a legado de Ariano Suassuna

Não havia a sombra da tristeza e do luto no canto dos artistas que se apresentaram na noite de ontem na praça Mestre Dominguinhos, que no entanto parecia ainda um pouco mais fria e cinza que o usual, um pouco menos “castanha”, descolorida pela partida de Ariano Suassuna.
A tristeza era como um pano de fundo, um certo ar de comoção, que aproximava-se mais de uma reverência e gratidão que de um lamento. “Nós não perdemos Ariano Suassuna. Ele nunca será para nós uma perda, mas sempre um ganho. Ele era o grande espadachim, o grande cavaleiro brasileiro de Taperoá, que moveu uma ação benfazeja para preservar as tradições populares desse nordeste brasileiro”, afirma Xangai. “A batuta dele soará sempre no ouvido e nos corações de todos nós”, resume o músico.
Eric Gomes
Eric Gomes
Xangai e Maciel Melo dedicaram a
 apresentação do projeto
 Cantoria a Ariano Suassuna
Parceiro de Xangai na noite no “Projeto Cantoria”, Maciel Melo relembra as palavras do próprio Ariano no “Auto da Compadecida”, quando fala da morte não como um lamento, mas como o curso natural da vida, “um moto-contínuo” que a todos iguala: “E aquilo que é a marca do nosso estranho destino sobre a terra, aquele fato sem explicação que iguala tudo o que é vivo num só rebanho de condenados, porque tudo o que é vivo, morre”. A partida de Ariano não desestabilizou a noite de ontem, marcada pela música de claras raízes tradicionais, influenciadas pela cantoria de viola, pela poesia oral, pelo imaginário sertanejo e inclusive pela música desenvolvida pelo movimento armorial. Muito pelo contrário. Xangai, Maciel Melo, Josildo Sá, Alexandre Revoredo, Irah Caldeira e Em Canto e Poesia comungaram do sentimento e deixaram transparecer uma energia fora do comum em seus shows. A sensação era de que ali acontecia uma espécie de cerimônia, de cortejo luminoso sob uma chuva fina. Cada show soava como um agradecimento. “Enquanto houver rabeca, pífano e viola, Ariano estará presente; enquanto houver um circo, um palhaço e um picadeiro, Ariano estará presente; enquanto houver um cantador, Ariano estará presente”, diz Maciel em cima do Palco Dominguinhos, em um show dedicado integralmente ao escritor.
“É uma noite que, claro, tem a tristeza, tem a saudade, mas acho que também tem a alegria dos 87 anos da vida do Ariano Suassuna. Um homem que escolheu o seu povo antes de tudo, e isso é maravilhoso. Quanto a perda, claro, a gente sabe, a gente está mais pobre de verdade, de generosidade, de sorriso e de pertinência e coerência com o que escrevia e como vivia. Acho que Ariano é esse homem que foi a própria obra”, resume Antônio Marinho, do grupo “Em Canto e Poesia”, primeira atração da noite, que apresentou um show marcado pelo diálogo forte entre música e literatura, sobretudo a poesia popular.
Eric Gomes
Eric Gomes
Alexandre Revoredo no palco Dominguinhos
Alexandre Revoredo, segunda atração da noite de ontem, lembra a importância do Movimento Armorial que marca toda a trajetória de Ariano: “ele fundou um movimento, assinou um movimento, ele é o grande ícone do armorial. Morre um ícone, um grande escritor”.
Eric Gomes
Eric Gomes
Josildo destacou sua afinidade com a obra do mestre Ariano
Josildo Sá e Irah Caldeira, que fizeram os shows mais dançantes da noite com conexão forte com os ritmos populares, compartilharam o sentimento de um aumento de responsabilidade. “Ariano Suassuna fez tanto por nós, pela história do nordeste de maneira geral, que mesmo de maneira modesta nós nos sentimos responsáveis por, de alguma forma, continuar com isso”, diz a cantora.
Eric Gomes
Eric Gomes
Irah cantou para Ariano e Dominguinhos
“Quando morre um mestre a gente fica mais forte, e o sentimento de responsabilidade também cresce”, afirma Josildo, que diz sentir uma afinidade forte com a arte de Ariano, pois compartilham do “mesmo linguajar puro” e uma relação intensa com o sertão, a cultura popular e o dia a dia do povo nordestino.
No final da noite, por volta das três horas da manhã, ouvem-se os últimos acordes dos violões de Xangai e Maciel Melo. O “salve Ariano!”, bradado pelos artistas no início do show, continua a ressoar, seguramente, no coração da música e da poesia nordestina. Salve Ariano!
Secom/Secult

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