25 DE MARÇO/2017: PCB 95 ANOS Os Primeiros Desafios e Sucessos
Por Ney Nunes*
O Partido Comunista Brasileiro iniciou sua trajetória em 25 de março de
1922 e desde o seu nascimento precisou superar grandes desafios. O
primeiro deles foi compor uma direção nacional, então denominada
Comissão Central Executiva (CCE), a partir dos diversos núcleos
comunistas que lhe deram origem. Devemos levar em conta que esses
núcleos estavam espalhados num país de dimensões continentais, com
uma rede de transportes precária. Ao se unirem para fundar o PCB, eles
tinham, portanto, muito pouca experiência de militância em comum. Os
contatos, na maioria das vezes, eram feitos via correspondência ou envio
de panfletos e jornais.
Decorridos pouco mais de três meses da sua fundação, eclodiu a revolta
tenentista de 05 de julho de 1922, que culminaria no episódio dos
“Dezoito do Forte”.
O governo do presidente Epitácio Pessoa decretou o
estado de sítio e conseguiu controlar a revolta. Em seguida desencadeia
severa repressão contra todos os focos de oposição, civil e militar,
atingindo de cheio o movimento operário e o PCB. O partido foi jogado
na ilegalidade, sua sede central foi revirada pela polícia, dirigentes e
militantes foram presos e espancados.
Diante dessas primeiras dificuldades, ninguém menos do que Abílio de
Nequete, o quadro político eleito no congresso de fundação para exercer
o principal cargo na direção do partido, secretário-geral da CCE,
demonstrou não estar à altura das responsabilidades que assumiu. Logo
após ser solto pela polícia com a recomendação de sumir do Rio de
Janeiro, muito abalado, ele renuncia e retorna ao Rio Grande do Sul.
As baixas do núcleo dirigente nesses primeiros tempos continuaram. O
comerciário Antonio Gomes Cruz Júnior, tesoureiro da CCE, foi expulso
por abandono do cargo. Pouco tempo depois, ocorre um problema bem
mais grave, por envolver as relações do partido com a Internacional
Comunista (IC), o secretário internacional e delegado ao quarto
congresso da IC, Antônio Bernardo Canellas, foi afastado de suas
funções na CCE por suas atitudes e posicionamentos no decorrer do
congresso. Elas foram consideradas impertinentes e equivocadas pela
maioria da direção do partido. Bastante contrariado, Canellas fez
exigências e críticas públicas aos dirigentes do PCB e, devido a isso,
acabaria sendo expulso do partido em 30 de novembro de 1923, por
decisão unânime da CCE.
Os percalços iniciais não esmoreceram a militância comunista,
recomposta a sua direção e embalados pelo prestígio crescente da
primeira revolução socialista vitoriosa, nesse momento a Rússia
Soviética vencia a guerra civil e a intervenção imperialista, o PCB
procurou cada vez mais se associar a esse triunfo: “A revolução vitoriosa
na Rússia não quer dizer: vitória de uma revolução “nacional”, mas sim,
vitória, no setor russo, da revolução proletária internacional. E só em seu
sentido internacional pode ser a revolução russa devidamente e
amplamente compreendida. Seus aspectos e características nacionais
são por natureza secundários. Seu internacionalismo, porém, é básico,
fundamental, decisivo. Daí, que seu triunfo completo e definitivo esteja
condicionado ao triunfo mundial da revolução proletária.”[1]. O partido
postulava, assim, a condição de representante no Brasil do
internacionalismo proletário e da revolução soviética.
Demarcado seu campo político, o partido também não descuidava de
reforçar sua intervenção na luta de classes. A greve dos gráficos de São
Paulo deflagrada em 07 de fevereiro de 1923 foi comandada por João da
Costa Pimenta, líder comunista e dirigente da UTG (União dos
Trabalhadores Gráficos). Essa greve contou com grande adesão e
combatividade por parte da categoria, se espalhou rapidamente pela
cidade, afetando os principais estabelecimentos. Nem mesmo a prisão
de Pimenta durante a greve, arrefeceu os ânimos dos operários. Ele
acabou libertado após uma campanha em seu favor e ainda pode
participar da conclusão vitoriosa do movimento.
Ainda nesse ano de 1923, apesar do estado de sítio em vigor, os
comunistas decidem comemorar o 1º de maio na capital federal, Octavio
Brandão foi encarregado da tarefa, articulou com sindicatos de várias
tendências uma manifestação unitária na Praça Mauá. O comitê
organizador obteve autorização da polícia e a manifestação ocorreu sem
incidentes. Segundo nos relata Brandão:
“A 1º de Maio de 1923, os
trabalhadores em massa compareceram ao comício da Praça Mauá, sob
as palavras de ordens da luta de classes e do internacionalismo
proletário. O comício aprovou moção especial pela unificação sindical,
pela unidade de ação da classe operária, contra o fascismo e as guerras
imperialistas.”[2].
Foram esses alguns dos desafios e sucessos inscritos nos primórdios da
trajetória do PCB. Ao longo dos seus 95 anos de existência, muitos
outros, inclusive de maiores magnitudes, se configuraram. Em nosso
entendimento, um dos fios de continuidade que podem explicar a sua
longevidade e atualidade, se expressa nesta sintética definição publicada
logo após o seu congresso fundacional:
“ O Partido Comunista, por sua
mesma composição social, por sua doutrina e por sua tática de combate,
é um partido de ação das massas, cujo programa tem por escopo único a
emancipação integral dos trabalhadores. Sua é a bandeira em que se
inscreve a divisa revolucionária da classe obreira, expressa por Karl
Marx, o imortal fundador do comunismo: ‘a emancipação dos
trabalhadores será obra dos mesmos trabalhadores’.”[3]
Ney Nunes é membro do Comitê Central do PCB.
Apoio: PCB (Partido Comunista Brasileiro) de Garanhuns/PE
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