A PEDIDO DA FAMÍLIA, NÃO PUBLICAREMOS A IMAGEM DE EDMILSON BAHIA |
A confirmação da primeira morte em Garanhuns causada pelo novo coronavírus comoveu a cidade e pegou a todos de surpresa. Evidentemente, haja vista o avanço da doença em Pernambuco, era inevitável que o nosso município ficasse sem o registro de pacientes infectados, mas o primeiro caso culminar com a morte de uma pessoa, isso quase ninguém previu, sobretudo por tratar-se de um homem jovem, sem comorbidades, cheio de vida, um bom pai, trabalhador, esforçado e que, como disse o filho na entrevista que vocês vão ver a seguir, estava muito preocupado com a covid-19.
Bem antes de sentir os primeiros sintomas, Edmilson já andava com um álcool gel, se preocupava e cumpria as medidas de isolamento e higiene preconizadas pelo Ministério da Saúde. Não foi suficiente. A covid-19 derrotou o motorista, mas, se pode haver algo que se possa extrair de toda esta tragédia pessoal, é que devemos ficar em casa neste momento para que a morte dramática de Edmílson não tenha sido em vão. Que a dor da família nos sirva de alerta de que essa doença não é só uma gripezinha, nem resfriadinho e não ataca só idosos, como se pensava no início. Ela é uma assassina invisível e impiedosa, que já tirou a vida de milhares de pessoas ao redor do mundo. FIQUEM EM CASA.
CONFIRA ABAIXO A CONVERSA QUE O PORTAL V&C TEVE NA TARDE DESTA SEXTA, 10 DE ABRIL, COM EDSON, FILHO DO JÁ SAUDOSO EDMILSON BAHIA.
V&C:A direção do Dom Moura falou que seu pai não quis ficar internado e assinou um termo de responsabilidade, vindo pra casa. Muito se tem especulado sobre essa questão. Então, porque seu pai, sentindo os sintomas do novo coronavírus, não ficou internado?
EDSON: Realmente é uma dúvida que todos estão. O motivo dele ter assinado o termo de responsabilidade foi porque o aparelho de raio x do Dom Moura não estava funcionando. A gente chegou lá de três e meia da madrugada de uma quarta. Não tinha como ele passar esse período todo lá esperando para que esse aparelho fosse consertado; então ele foi medicado, decidiu assinar o termo e ir embora. Mas, mesmo assim, acredito que faltou um pouco de respeito do hospital. Porque como é que você vai para o hospital com toda essa preocupação atual com o novo coronavírus e um simples aparelho pra você fazer um raio x do pulmão não está funcionando? Então acho que faltou bom senso.
V&C: Mas isso foi numa quarta não é? Segundo a direção do Dom Moura, na quinta ele retornou ao hospital, colheu material para a testagem do novo coronavírus e, como estava se sentindo bem, sem falta de ar, pediu para ir pra casa, segundo informe do Dom Moura.
EDSON: Sim ele foi na quarta, o aparelho não estava funcionando, mas ele só assinou esse termo de responsabilidade neste dia. Ele não assinou outra vez. Na quinta, ele fez os testes, foi medicado e veio pra casa. Porque ele foi medicado e perguntaram como ele estava se sentindo e ele disse que tava com febre, cansaço, e mandaram ele pra casa, então desta vez ele não assinou nenhum termo. Da última vez que ele deu entrada, na noite da segunda, 07 de abril, já ficou entubado, aí já não tinha mais jeito porque aqui em Garanhuns não tem os aparelhos necessários para tratar essa doença.
V&C: Então você acha que houve falha do hospital Dom Moura nessa questão de talvez não ter percebido a gravidade do caso da primeira vez que ele procurou assistência lá e já tê-lo deixado internado?
EDSON: Bem, na verdade ele era pra ter sido primeiramente assistido pelo Hospital Perpétuo Socorro por conta do plano de saúde dele. Nós chegamos na Perpétuo Socorro e nos informaram que o hospital não tinha estrutura para esse tipo de atendimento, mas era pra ter porque ele tinha o plano de saúde. Então mandaram para o Dom Moura, mas o certo era ele ter recebido todo o atendimento pelo Hospital Perpétuo Socorro. Não sei se a palavra certa seria culpa, mas falta estrutura. Veja só. Se nós estamos aqui em Garanhuns em meio a uma pandemia de nível global e não temos estrutura. Como ficamos? Esses casos tem que transferir para o Hospital Mestre Vitalino, em Caruaru. Então eu acho que temos que tomar uma atitude urgente porque, no momento, Garanhuns não tem estrutura para atender pacientes graves de covid-19.
V&C: Quantas entradas seu pai deu no Dom Moura, antes da segunda-feira, 06/04, quando foi entubado ?
EDSON: Não lembro ao certo, mas ele deu umas duas ou três entradas na Perpétuo Socorro e mais umas duas no Dom Moura, em todo esse período, do início dos sintomas até o dia do óbito
V&C: Quando Edmilson começou a sentir esses sintomas que o tornaram suspeito para covid-19?
EDSON: Acho que começaram os sintomas no dia 22 de março. Mas, como ele estava de férias, já vinha se isolando dentro de casa, preocupado com essa doença.
V&C: A ultima entrada de seu pai no Dom Moura foi quando?
EDSON: Dia 06 de abril por volta das 22h30min. No dia 07 ele veio a óbito por volta das 4 da madrugada
V&C: Em um momento de incertezas onde estamos um pouco perdidos e assustados com esse problema, com alguns levando a sério e outros nem tanto, como seu pai via esse avanço da covid-19 antes de sentir esses sintomas? Ele tinha medo? Se preocupava?
EDSON: Ele tava sim levando a sério. Desde o começo quando isso chegou aqui ele já estava preocupado, já estava andando com álcool gel, máscara e bastante assustado. Mas como ele era motorista de ônibus interestadual tinha contato com pessoas de fora, turistas e acabou acontecendo essa fatalidade.
V&C: Você tem alguma suspeita de onde seu pai possa ter sido contaminado?
EDSON: Não faço ideia, mas ele chegou em casa um dia dizendo que tinha uns turistas no ônibus tossindo e ele ficou preocupado. Com certeza ele se contaminou em alguma dessas viagens que ele fez e deve ter entrado em contato com alguém contaminado, mas pra precisar o local exato, a gente não faz ideia.
V&C: Você falou que lá no Dom Moura os profissionais falaram que seu pai estava com todos os sintomas da covid-19. Supomos, então, que quando ele regressou pra casa ficou isolado em um cômodo. Como cuidaram dele entre essas idas e vindas ao hospital? Como foi a fase de isolamento? Vocês tiveram alguma orientação?
EDSON: A Secretaria de Saúde orientou sim; eles vieram aqui em casa e mostramos onde ele ficava, e que não estávamos tendo contato com nosso pai. Ele tava de máscara e luva, então houve orientação sim.
V&C: Vocês da família fizeram teste para covid-19?
EDSON:Não, não chegamos a fazer. Esse teste rápido só tem em Caruaru, mesmo assim eles não conseguiram não. Mas a Secretaria de Saúde Municipal tá acompanhando a gente, e eles disseram que não tem problema porque não estamos apresentando sintomas. E como os sintomas dele começaram dia 22 e até hoje nenhum de nós teve sintomas graves, então só pediram que a gente ficasse em casa em isolamento.
V&C: Quantas pessoas moravam na casa com seu pai?
Edson: Só eu , meu pai , minha mãe e meu irmão, mas estamos bem e tomando os cuidados devidos.
V&C: Você falou que a família estava incomodada com algumas falsas informações que circulam nas redes sociais desde a morte de seu pai? O que exatamente?
EDSON: Recebemos áudios maldosos, de que meu pai tava em festa durante o isolamento, que nós estávamos doentes, que as pessoas estavam visitando ele. Inventaram muita coisa. Só peço que respeitem a dor dos familiares neste momento.
V&C: Qual o recado que você deixa pra a população de Garanhuns nesse momento difícil?
EDSON: É hora de ficar em casa. Tem muita gente brincando e não levando a sério. A gente aqui levava muito a sério isso, estávamos usando máscara, álcool em gel e mesmo assim perdemos nosso pai, imagina você quem não toma as precauções determinadas pelas autoridades de saúde do país. Não é uma doença que só mata idosos. Meu pai era novo, tá morrendo muita gente nova, então temos que ficar em casa porque a covid-19 não escolhe idade.
ESTAMOS EDITANDO O ÁUDIO DA ENTREVISTA PARA QUE POSSAMOS ANEXÁ-LO À ESTA PUBLICAÇÃO NESTE SÁBADO, 11 DE ABRIL
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