As investigações da Aeronáutica sobre o desastre aéreo que matou o candidato à Presidência Eduardo Campos, em agosto do ano passado, concluíram que o acidente foi causado por falha humana, informa reportagem do jornal O Estado de S. Paulo nesta sexta-feira. Segundo a publicação, o relatório da Aeronáutica aponta uma sequência de erros do piloto Marcos Martins, entre eles a falta de experiência com o jato Cessna 560 XL e a decisão de "encurtar" o procedimento de aterrissagem na Base de Santos, descumprindo os manuais de pouso. O relatório será divulgado oficialmente até o início de fevereiro.
Ao não obedecer as manobras exigidas na aproximação da pista, o piloto cometeu o erro que deflagrou a tragédia, segundo os investigadores. O "atalho" não deu certo e Martins precisou arremeter bruscamente. Durante o procedimento, o piloto sofreu a chamada desorientação espacial, perdendo a referência da aeronave em relação ao solo. Segundo o Estadão, o relatório chegou a essa conclusão com base no tipo de queda do Cessna: em um ângulo de 70 graus e em potência máxima, como se o piloto pensasse que estivesse acelerando em um movimento de subida.
Outras circunstâncias foram apontadas como agravantes para o desastre, como a chuva e a neblina que atingiam a região na manhã do acidente e a pista curta na Base de Santos, considerada difícil para os pilotos. Além disso, a falta de treinamento de Martins com a aeronave e o histórico de atritos entre piloto e copiloto também foram citados no relatório. De acordo com o jornal, nos cinco meses de investigação do Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) não foi encontrada nenhuma falha técnica ou de operações do sistema aeronáutico. As duas turbinas do jatinho estavam em perfeitas condições de uso.
O Cessna 560 XL decolou do Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, às 9h21 do dia 13 de agosto, com destino ao Guarujá. Quando a aeronave se preparava para o pouso, arremeteu devido ao mau tempo. Em seguida, o controle de tráfego aéreo perdeu contato com o jato. Além de Eduardo Campos, quatro assessores do político e os dois tripulantes morreram.
FAMÍLIA DE CAMPOS CONTESTA LAUDO
Ao comentar o assunto através de nota, o irmão de Eduardo Campos, o advogado Antônio Campos, disse que a conclusão da Aeronáutica é prematura.
Em nota, Antônio disse ser “estranho que se tenha acesso às investigações da Aeronáutica e se divulgue conclusões antes da divulgação pelo órgão competente”. “O Cenipa não está fazendo todas as perícias do caso e não pode ter uma visão global do acidente”, continua.
O Ministério Público e a Polícia Federal também abriram investigações sobre o acidente aéreo. De acordo com Antônio Campos, o procurador Thiago Nobre, que acompanha o caso em Santos, promete a conclusão do inquérito policial e civil sobre o caso até fevereiro – ele ainda aguarda a conclusão de perícias.
A família de Eduardo Campos designou um perito auxiliar para acompanhar as investigações. Internamente, os parentes do ex-governador de Pernambuco levantam a hipótese de que houve uma falha técnica na turbina – o que contraria parecer da Aeronáutica.
Leia a nota na íntegra:
Com referência a matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo, nesta sexta-feira, 16/01/2015, sobre as causas do acidente aéreo que vitimou Eduardo Campos, estando habilitado nos autos como familiar da vítima e advogado, tenho a registrar o seguinte:
1- É estranho que se tenha acesso às investigações da Aeronáutica e se divulgue conclusões antes da divulgação pelo órgão competente.
2- Os laudos da Aeronáutica e do Cenipa (Centro de Prevenção de Acidentes Aéreos) tratam de possibilidades quanto a causa de acidentes e não são conclusivos, conforme é a técnica de tais laudos, primando eles por recomendações quanto a procedimentos de prevenção de acidentes aéreos. O Cenipa não está fazendo todas as perícias do caso e não pode ter uma visão global do acidente.
3- Na data de ontem, 15/01/2015, tive uma audiência com o Procurador da República Thiago Nobre, na cidade de Santos, que prometeu a conclusão, possivelmente, do inquérito policial e civil para fevereiro/2015, pois ainda aguarda a conclusão de perícias e estas poderão ainda não ser definitivas sobre o caso, podendo ter provas complementares. Ele é o Procurador responsável pelo caso, tendo na Polícia Federal o Delegado Rubens Maleiner como a autoridade policial responsável pelo inquérito policial, que ainda não o concluiu.
4- Após a divulgação oficial das conclusões das investigações da Aeronáutica, bem como a conclusão dos inquéritos civil e criminal em curso, iremos nos pronunciar sobre as causas do acidente. Até lá, é prematura a conclusão noticiada, até porque está pendente de conclusão relevantes perícias.
Veja